Gostei possui um património natural e paisagístico invejável, com um vasto repertório florístico e faunístico que lhe preenche o território. Estas composições assentam sobre três distintas unidades de paisagem: as ‘montanhas de granito e xisto’, a ‘terra fria transmontana’ e a ‘meia encostam nordestina’ (Colaço-do-Rosário, 2004).
A beleza natural das suas paisagens é fortemente influenciada pelas diversas correntes de água que serpenteiam a região – margens do rio Fervença, da Ribeira de Mousere, Ribeira de Vale do Conde e as margens da Ribeira de Gostei – ponteadas por moinhos antigos e uma ponte de alvenaria, em arco único e de feição medieval. Acompanhando estes cursos de água, a diversidade ripícola é dominada por choupos negros (Populus nigra) e choupos brancos (Populus alba), por amieiros (Alnus glutinosa), freixos (Fraxinus excelsior), ulmeiros (Ulmus minor) e salgueiros (Salix sp.).
O percurso cruza campos agrícolas maioritariamente de culturas temporárias de sequeiro (centeio e o trigo) e regadio (hortícolas e leguminosas), pomares e vinhas. Nas áreas florestais, predominam as espécies folhosas, como castanheiros (Castanea sativa), carvalhos (Quercus ssp.), azinheiras (Quercus rotundifolia), nogueiras (Juglans regia), medronheiros (Arbutus unedo) e abrunheiros-bravos (Prunus spinosa).
Flora de Gostei |
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castanheiros (Castanea sativa) | carvalhos (Quercus ssp.) | azinheiras (Quercus rotundifolia) | nogueiras (Juglans regia) | medronheiros (Arbutus unedo) |
abrunheiros-bravos (Prunus spinosa) | teixo (Taxus baccata) | sorveira (Sorbus aucuparia) | vidoeiros (Betula celtiberica) | pinheiro-bravo (Pinus pinaster) |
pinheiro de Oregon (Pseudotsuga menziesii) | pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris) | pinheiro larício (Pinus nigra ssp. larício) | azevinho (Ilex aquifolium) | urze (Calluna vulgaris) |
carqueja (Genista tridentata) | tojo (ulex ssp) | alecrim (Rosmarinus officinalis) | rosmaninho (Lavandula stoechas) | choupo negro (Populus nigra) |
choupo branco (Populus alba) | amieiros (Alnus glutinosa) | freixos (Fraxinus excelsior) | ulmeiro (Ulmus minor) | salgueiro (Salix ssp.) |
Fauna de Gostei |
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lobos ibéricos (Canis lupus signatus) | raposas (Vulpes vulpes) | javalis (Sus scrofa) | ouriços-cacheiros (Erinaceus europaeus) |
texugos (Meles meles), lebres (Lepus ssp.) | coelhos-bravos (Oryctolagus cuniculus); | toupeiras (Talpidae ssp.) | doninhas (Mustela ssp.) |
leirões (Eliomys ssp.) | lontras (Lutrinae ssp.) | cegonhas-brancas (Ciconia ciconia) | perdizes-comuns (Alectoris rufa) |
codornizes (Coturnix coturnix) | galinholas (Scolopax rusticola) | pombos-bravos (Columba oenas) | rolas (Streptopelia) |
cucos (Cuculus canorus) | andorinhas-dos-beirais (Delichon urbicum) | rouxinóis (Luscinia megarhynchos) | melros (Turdus merula) |
pegas (Pica pica) | corvos (Corvus ssp.) | peneireiros cinzentos (Elanus caeruleus) | gaviões (Harpia ssp.) |
Os moinhos de Gostei que pontuam a paisagem deste território têm associada uma forte carga histórica e uma grande importância cultural, que não passa despercebida aos olhos de quem visita a aldeia.
Disso são testemunhos os diversos provérbios populares que guardam também a moagem e os moleiros na memória coletiva. Por exemplo, o ditado “muda-se de moleiro, não se muda de ladrão” alude-se ao facto de os produtores que levavam os cereais para moer, acordando uma maquia (percentagem da farinha) que ficava para o moleiro, se sentirem várias vezes “roubados” na farinha que recebiam de volta, sendo que mesmo mudando de moleiro, a situação se repetia.
Salientamos o Moinho da Lameira e o Moinho da Ribeira juntos ao Ribeira de Gostei, que nos remota aos primórdios do sistema de moagem de cereais através do uso da força da água.
Os primeiros moinhos de água introduzidos em Portugal remontam a meados do século X, julgando-se que as diferentes tipologias tenham sido divulgadas por distintos povos. Os rodízios (moinhos de roda horizontal) associam-se à cultura Romana e as azenhas (moinhos de roda vertical) à Árabe. Trata-se de sistemas complexos, intimamente ligados à atividade agrícola que se desenvolvia em solos férteis, construídos com o objetivo de moer ou triturar cereais – significado atribuído à palavra moinho que deriva etimologicamente do latim molinum. A sua difusão ocorreu em larga escala durante os séculos seguintes contribuindo para a sedentarização dos camponeses e consequente expansão das áreas de cultivo agrícola.
Nesta região e área envolvente (Beiras, Alto Douro e Trás-os-Montes), os moinhos e azenhas proliferam em todas as zonas montanhosas, sulcadas por linhas de água. Ao património edificado de Gostei, juntam-se assim alguns moinhos, cuja utilização acentuava o comunitarismo entre os representantes da região. Estas estruturas foram, outrora, representantes do desenvolvimento económico da região, com atividades ligadas ao moer do trigo e centeio e ao cozer do pão.
Moinhos de rodízio e azenhas são dois nomes que se referem a engenhos hidráulicos com rodas horizontais e verticais, respetivamente, que se sabe terem sido introduzidas pelos romanos e pelos árabes em Portugal.
Os moinhos de roda horizontal, como é o caso deste exemplo, são os mais bem adaptados ao regime torrencial dos ribeiros de montanha, que quase secam no verão. Por isso, a sua atividade anual concentra-se em pouco mais que os meses de inverno. Estes eram os mais comuns nas Terras Frias Transmontanas e mais utilizados na moagem do cereal (centeio, trigo e milho). O engenho motor, o rodízio, é uma roda horizontal com cerca de dois metros de diâmetro, que tem inserida uma numerosa série de copas côncavas centrada num eixo vertical, a pela. A água é conduzida dos ribeiros, normalmente a partir de levadas, e dirigida contra as copas fazendo rodar o rodízio e a pela. Por sua vez, a pela faz sua ligação com a mó a partir do lobete e do veio e lhe transmite o movimento.
A tradição de levar os cereais ao moleiro foi caindo em desuso no final do século XX, dada a modernização do sistema de moagem, agora realizada maioritariamente em moinhos elétricos. Embora o seu abandono tenha resultado na deterioração de algumas estruturas, permanecem visíveis no território as expressões um precioso saber-fazer.
SABIA QUE…
Em 1965, registava-se a existência de cerca de 8 mil moinhos nas regiões das Beiras, Alto Douro e Trás-os-Montes.
A Freguesia de Gostei